Dois processos migratórios recentes

AVenezuela é o segundo país com maior número de deslocados e refugiados no mundo, depois da Síria. Segundo a Organização das Nações Unidas, espera-se que uma média diária de 138 refugiados e migrantes venezuelanos entrem no Brasil ao longo de 2023 e 67, em 2024, atingindo um total estimado de quase 476 mil pessoas até o final de 2024. A migração venezuelana está consolidada como o maior deslocamento humano em direção ao Brasil. Foram mais de 144 mil pessoas registradas no ano de 2022.

Quinta-feira, dia 12 de outubro, a Arena Pantanal representou os dois processos migratórios recentes que Cuiabá vivencia: o haitiano e venezuelano. A bela Arena construída em grande parte com a mão de obra de imigrantes haitianos, trazidos principalmente pela empresa Mendes Júnior 10 anos atrás. Grande parte dos haitianos seguiram suas diásporas rumo aos Estados Unidos após a conclusão da obra, os que permaneceram, enfrentam dificuldades para prosperarem, mas estão melhor do que estavam no Haiti, devastado pelo terremoto quando iniciaram suas travessias.

A Venezuela, cuja seleção enfrentava o Brasil, é o país que acumula o maior número de imigrantes em nossas esquinas, famílias inteiras, visivelmente vulneráveis e cerca de outros quatro mil venezuelanos vieram encaminhados pela Operação Acolhida, um programa oficial de triagem e acolhida humanitária do governo federal. A migração venezuelana foi precedida de um processo de empobrecimento abrupto do país e seu povo, que correu para as fronteiras da Colômbia e do Brasil.

Em Cuiabá, o Centro de Pastoral para Migrantes Scalabrini, no bairro Carumbé, está operando com capacidade máxima. Mais de noventa pessoas estão acolhidas na casa, com raras exceções de alguns poucos cubanos e africanos, a quase totalidade é de famílias venezuelanas. Prioritariamente o abrigo é familiar. Improvisadamente há um serviço de creche sendo estabelecido no local, o que altera a rotina do espaço de convivência coletiva, há cerca de vinte crianças pequenas, bebês.

Dois venezuelanos se aventuraram para assistir à partida de quinta-feira viajaram de ônibus da Bolívia até Cuiabá. Entraram em contato com um jogador e ganharam os ingressos para o jogo. Ao sair da Arena Pantanal, um deles caiu e fraturou o pé. Sem dinheiro, foram encaminhados para o Centro de Pastoral para receberem ajuda e mediação junto a Prefeitura para que após, o atendimento médico, conseguissem passagens para retornar.

Inúmeros venezuelanos que se encontram em Cuiabá vieram de processos migratórios frustrantes na Colômbia, Equador e Perú. Outros tantos entraram por Roraima e pelas conversas percebe-se que Cuiabá não deve ser o destino final do deslocamento para a maioria deles. A situação das diásporas se repete e é baseada nas dificuldades de esperar pelo fim da crise social e colapso econômico, no qual o país está mergulhado desde 2014. A imagem externa é de um país abalado pela pobreza e inflação estratosférica.

“Nunca quis sair do meu país, estou aqui por necessidade” é uma frase que se ouve continuamente no Centro de Pastoral para Migrantes. As histórias de vida também se repetem: família de classe média, bom emprego e bom padrão de vida, filhos matriculados em escolas privadas, plano de saúde. A medida que a crise se agravou, os pais perderam o emprego, os filhos deixaram a escola privada e foram matriculados em escolas públicas em bairros distantes, o transporte escolar foi cortado, o alimento foi racionado. A vida foi complicando com a falência do estado e cortes nos auxílios concedidos ao povo. Mesmo que economizassem algum recurso para comprar alguns itens, a escassez já havia atingido nas gandolas dos supermercados, não havia mais alimentos para todos.

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