Uma das formas de negação da dignidade humana é o silêncio. Silêncio imposto pelos algozes, silêncio por escolha própria, por temer a dicotomia das palavras, que dependem da boa ou má intenção de quem as interpreta.
O silêncio dos que recolhem a voz é uma das características dos vulneráveis, dos que são explorados e abandonados.
Ao soltarmos a voz vamos tecendo histórias, cruzando o tempo, as subjetividades e reflexões mais densas sobre experiências, memórias, atitudes e posturas.
Tem sido ampliado o espaço onde podemos criar narrativas sobre o que pensamos do nosso lugar no mundo, sobre as injustiças que presenciamos ou sofremos. Ter voz importa! Na verdade, fazer uso da voz de forma eficaz e crucial para legitimar as lutas que empreendemos, seja na política, na vida social e familiar.
Falar o que se sabe, perguntar o que não se sabe, escrever, comentar artigos é um poderoso instrumento itinerante de praticar a democracia, de defender-se dos excessos dela ou apenas gozar do direito à voz que as conexões contemporâneas oferecem através da internet, dos blogs, jornais e sites e aplicativos de mensagens.
Não há mais espaço para o obscurantismo que humilha e desacredita e para sair desse desânimo, desse desencanto, o professor Nick Couldry, da Universidade de Londres escreveu um livro intitulado, “Ter voz importa”. O termo \”voz\”, usado pelo autor sugere justiça e democracia, através da qual podemos ajudar a promover mudanças políticas ou denunciar desagregações.
Justamente pelo poder que o discurso livre articula, alguns setores da mídia negam relevância à voz e creditam a esta, apenas um poder de aspecto ilusório. Esse discurso opera para desconsiderar algo importante, que pode contribuir para a construção de visões alternativas para se enxergar e sanear as crises.
A todo tempo algum acontecimento aparentemente fora do nosso alcance perpassa nossas vidas, podemos então, oferecer a voz como algo que pode ser um grito individual ou coletivo, um processo que não é necessariamente político em si mesmo, pois pode nos conectar com diversos enquadramentos e ser aplicado a variados contextos para além da política..
Ter voz é um processo de dar significado à vida de alguém, é dar crédito. Nós todos queremos ter voz. E eu decidi falar da voz como um valor individual, uma marca da liberdade de expressar consentimento, indignação e propostas para que em certo momento não haja tamanho distanciamento entre o que ressoa e o que é feito.
Há uma variedade de demônios que nos espreitam. A impunidade é um deles. E a luta contra a Impunidade implica assegurar o direito inalienável de conhecer a verdade sobre violações e quebrar o silêncio só reforça o objetivo de usar a voz, não como instrumento de show, mas de debates sérios, que podem, com esperança, influenciar e chegar a algum lugar.