Estamos exaustos

Asociedade do século XXI transformou-se na sociedade de cobrança por desempenho e nós, nos tornamos sujeitos forçados a aceitar todas as tarefas e realizá-las a qualquer custo. O filósofo Byung-Chul Han, nascido sul-coreano e radicado na Alemanha escreveu um livro sobre o que ele denominou de “sociedade do cansaço”, o adoecimento de uma sociedade que sofre sob o excesso de positividade, individualismo, competição e consumo excessivo. A consequência de todo esse sistema de cobrança de desempenho foi pior saúde mental – pior sono, menos calma, mais ansiedade.

Uma sociedade que atribui e cobra do ser humano as qualidades do computador (multitarefa, velocidade, desempenho) não seria a causa do fenômeno generalizado dos esgotamentos mentais, dos infartos da alma?

Diz Han, que a técnica temporal de sermos multitarefas (multitasking) não representa nenhum progresso civilizatório. A multitarefa não é uma capacidade para a qual só seria capaz o homem na sociedade trabalhista e de informação pós-moderna. Trata-se de um retrocesso. A multitarefa está amplamente disseminada entre os animais em estado selvagem. Trata-se de uma técnica de atenção, indispensável para sobreviver na vida selvagem. “Um animal ocupado no exercício da mastigação de sua comida tem de ocupar-se ao mesmo tempo também com outras atividades. Deve, no mínimo, cuidar para que, ao comer, ele próprio não acabe comido”.

O sujeito escravo da busca pelo bom desempenho em todas as atividades da vida, encontra-se em guerra constante consigo mesmo. Diante da preocupação em viver bem reagimos com hiperatividade, com a histeria do trabalho acelerado, da visibilidade, da boa performance, não é de admirar que as pessoas estejam se sentindo sobrecarregadas e exaustas.

A sociedade do desempenho e a sociedade a mil por hora geram um cansaço e esgotamento excessivos. Esses estados psíquicos são característicos de um mundo que se tornou pobre em negatividade e que é dominado por um excesso de positividade quanto a cumprir todas as tarefas, no menos espaço de tempo e a qualquer custo.

É possível associar o estudo da ‘sociedade exausta’ à depressão e síndrome de burnout, descrevendo como consequência da nossa incapacidade de dizer não e de, no fundo, não ser capaz de fazer tudo. Uma forma de autodestruição que nos vence com um colapso nervoso ou esgotamento.  A Síndrome de Burnout expressa a consumação da alma e a ilusão de acreditar que quanto mais ativos nos tornamos tanto mais livres e felizes seremos.

O que causa o esgotamento é a pressão pelo desempenho, pela realização pessoal e a ideia turva de que a felicidade somente será atingida se tivermos sucesso individual.  A lamúria do indivíduo exausto de que nada é possível só se torna possível numa sociedade que crê que nada é impossível.

O vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2019, Peter Handke, também escreveu um Ensaio sobre o cansaço, diferencia os graus de fatiga e fala sobre um estado onde nem todos os sentidos estariam extenuados e levaria o homem para um abandono especial, para um não fazer o que não suporta, para ao final, sugerir uma reavaliação da vida, dedicar a momentos de contemplação e fugir das pressões e artimanhas do ego que nos escraviza.

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