Sem protesto público, sem provocações, oposição e desafios, a democracia morre. Diria que, quase sem exceções, os políticos brasileiros estão provando do próprio veneno ao não levarem a sério a reforma partidária. O sistema político é irremediavelmente antiquado e esta é uma das razões do distanciamento entre os políticos e o cidadão e entre o cidadão e o voto. As campanhas eleitorais hoje estão demasiadamente despolitizadas e a principal lição a aprender não é ideológica, mas prática. O estado pode ser popular, pode ser grande, mas tem que funcionar. Temos que pagar impostos, mas os serviços públicos e privados, sobretudo educação, saúde e transportes devem ser decentes; os programas de benefícios devem existir, porém, devem ser colocados em bases sólidas para evitar o comprometimento das políticas públicas em favor de gerações futuras. É preciso combater a desigualdade com um modelo de estado eficiente e ágil. É crucial que o governo esteja disposto a acabar com a corrupção.
Muitas pessoas e toda a classe política está consciente dos problemas gigantes que fragilizam o sistema político vigente, que vão da impunidade à maneira nada convencional pela qual os empresários ricos controlam a política, promovendo o financiamento de campanhas. Porém, a reforma política está emperrada e é empurrada desde que inicialmente fora trazida à tona, décadas atrás. Enquanto isso vê-se uma desordem constituída e legalizada, com a atuação de 32 partidos compondo o quadro político brasileiro.
É do entendimento do ministro do STF Dias Toffoli, que as decisões judiciais andam em desacordo com a realidade do mundo político, que o horário político na TV virou business e que a discrepância entre as coligações regionais e a nacional é cada vez maior. Ao falar sobre a fidelidade partidária, disse que a proliferação dos partidos ocorreu porque a Justiça determinou que se mudar de partido, o político eleito perde o mandato, mas se criar partido, não. Então, eles criam partidos.
Temo que haja um abismo cada vez maior entre os grandes partidos e o eleitor, porém está cada vez mais tênue a linha que separa alguns setores que se dizem oposição mas tem relação íntima de negócios com o governo. Para mudar as práticas políticas talvez seja necessário renovar e renovação não tem ligação direta com idade, mas com perspectivas e estabelecimentos de novas formas de fazer política. Convenções mais democráticas e transparentes seria um bom começo e de fato, é onde as candidaturas começam. Depois, é só abandonar as velhas práticas de poder excessivo, de familiocracia, direita e esquerda e favorecimento aos aliados. A aliança deve ser com o povo, fundada em boas ideias para dar fôlego novo ao espectro político.