Que susto foi esse que levou a mídia e a sociedade, em grande parte, diante da politização do carnaval de 2018 e do enredo de algumas escolas de samba do Rio de Janeiro e a entrada em cena de novos protagonistas?
Não foram apropriações culturais desgarradas, vagando em cenários indiferentes. Essas doutrinas sem lastros do politicamente correto e patrulhamento excessivo ameaçam a diversão do povo.
Sim, a maioria absoluta sai para se divertir durante o carnaval e se o enredo do samba agrega algum valor político ou ético, ótimo! Senão, samba-se do mesmo jeito! No caso do Rio de Janeiro o desfile é um campeonato, é preciso jogar para ganhar!
Mas claro, que no contexto macro da grande festa popular que é o carnaval, é importante retratar os cenários de exclusão, repressão, o preconceito e a ineficiência do Poder Público. Por que alguns se aborrecem e travam batalhas ideológicas com inimigos políticos? Para que desqualificar os compositores de samba, os carnavalescos? Maus elementos e gente honrada existe em toda comunidade.
É muito mimimi! Queriam que o Brasil fosse retratado falsamente como uma ilha da fantasia e prosperidade?
No ano de 2018, não há como não fazer críticas sociais, como não falar do papel da migração estrangeira, do papel gigante do Estado, da criminalidade organizada, que em parte banca até escolas de samba.
Não há mais eficiência o bastante para esconder a face real do nosso país e não será apenas o carnaval, que sistematicamente reproduzirá críticas, citando os filhos abandonados pela Pátria, policiais assassinados, a mídia manipuladora, a farra dos guardanapos de Sérgio Cabral e esposa. Na contramão do denuncismo, uma rainha de bateria trocou as plumas por uma fantasia feita de cacos de vidros. Você bateu palmas para este ato ecologicamente correto?
A perplexidade e falso moralismo não cabem no momento em que nossos olhares devem estar atentos a toda forma de narrativa que apresente o retrato da nossa sociedade, seja romances, filmes ou expressões populares.
Uma artista se fantasiou de índia e bastou para explodir sobre ela críticas ácidas, até que uma liderança indígena veio a público defender a liberdade de qualquer pessoa fantasiar-se e desta forma, divulgar e homenagear os povos indígenas.
A Amazônia já foi mostrada como um mito de natureza exuberante e tempos depois denunciaram o desmatamentos de áreas gigantescas e massacres de povos indígenas.
Em linhas gerais, a exposição ajuda a construir um diagnóstico da noção de realidade nacional e se remete alguns a promover questionamentos quanto às mazelas exibidas, aplausos!
Porém, sabemos que a realidade é muito mais complexa e nenhum pouco mais bonita do que o que foi mostrado na avenida e que muitas verdades ainda são desconfortáveis para os privilegiados.
Enfim, deixa que falem, que verbalizem, que fantasiem-se do que quiserem. O carnaval sempre foi uma festa associada ao excesso e transgressão e passado os 4 dias, a rotina volta a vida de todos, independentemente das expectativas que criaram.