O crônico flagelo da fome

Eu não saberia descrever o quanto dói a sensação de fome e não alegro-me ao ler o último relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que no ano passado divulgou dados sobre o número de pessoas que passam fome no mundo e ao detalhar o relatório enfatizou que a cada 6 segundos uma criança morre acometida por alguma doença relacionada à fome. O número estimado de pessoas subnutridas é de um bilhão e vinte e três milhões de pessoas, das quais 578 milhões vivem na Asia e no Pacifico. Dois terços das pessoas que passam fome vivem em 7 países: Bangladesh, China, Congo, Etiopia, India, Indonésia e Pakistão.

A FAO comemorou ao constatar que pela primeira vez em 15 anos caiu o número de pessoas subnutridas e o Brasil pelo segundo ano consecutivo lidera o ranking dos países com melhor performance no combate à fome.

Embora os números tenham sido consideravelmente reduzidos, é ainda inaceitável que a erradicação da fome não seja prioridade zero dos governos, que segundo aponta a FAO devem investir mais na agricultura, combinado com a expansão da rede de assistência social e criar mecanismos eficientes para proteger as pessoas com mais vulnerabilidade.

O corte promovido pelo governo americano nos programas de ajuda alimentar e combate a fome pode comprometer drásticamente os países africanos que se encontram mergulhados numa terrível seca. A comida não foi tratada como um aspecto crucial da política internacional, sabendo o governo americano que não pode haver paz ou estabilidade quando se administra uma multidão faminta. As imagens, sobretudo, de crianças desnutridas á beira da morte voltam a cena nos noticiários internacionais. A imagem choca, mas se repete, alimentada por ingredientes externos como a seca, a guerra, os terremotos, difíceis acessos aos meios de produção e a indiferença.

Essas pessoas que sofrem com a flagelo da fome não representam apenas os números atualizados de uma estatística, são pessoas, homens e mulheres muito pobres que lutam para criar seus filhos. Os dados assombraram a própria ONU durante a reunião de cúpula em setembro do ano passado em Nova York, onde discutiam medidas que poderiam acelerar o progresso nos países pobres. Fixou-se aí então, algumas metas e a primeira das quais é acabar com a pobreza e a fome.

É preciso incitar os líderes mundiais a tomar medidas firmes e urgentes para acabar com a fome, a tratar a questão com seriedade e a buscar incessantemente medidas que possam ajudar a construir um futuro para as crianças e jovens. Com US$ 25 milhões por ano, seria possível reduzir sensivelmente o quadro de desnutrição nos 15 mais famintos países da África e da América Latina e salvar da fome pelo menos 900 mil crianças nos próximos quatro anos.

O Brasil, um país de contrastes vive boa fase de crescimento econômico, foi apontado no relatório como um país que tem avançado para reduzir o número de pessoas desnutridas especialmente devido a atuação positiva da economia nos anos passados, contudo ainda prevalece a máxima onde os 10% mais ricos detém quase toda a renda nacional e à margem vive um exército escandaloso de 15,6 milhões de pessoas subnutridas.

Anos atrás conheci Mark London, advogado e escritor americano que apaixonou-se pela história da BR-163, no trecho que liga Cuiabá a Santarém, e em seus apontamentos relatou preocupação com a miséria e a fome que se abatiam sobre as pessoas que viviam ao longo da BR. Acabo de percorrer o trajeto e constatei que os bolsões de miséria transformaram-se em pequenos vilarejos e distritos, dotados de precária estrutura, mas o fantasma da fome não mais povoa o trajeto da rodovia.

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