A forte divisão política que antecede a eleição do próximo domingo no Brasil tem sido retratada nos noticiários internacionais como uma batalha pelo futuro da democracia na maior nação da América do Sul e muitos analistas temem que aqui possa acontecer cenas idênticas da barbárie que ocorreu nos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021, quando o presidente Biden venceu as eleições e Donald Trump colocou em dúvida o mesmo sistema eleitoral, que o havia elegido e incitou um gigantesco quebra-quebra no Capitólio. Coincidentemente o presidente Bolsonaro tenta deslegitimar o sistema eleitoral que o elegeu deputado federal 7 vezes consecutivas e elegeu também seus três filhos.
Bolsonaro que foi esfaqueado em um comício em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018, não aprendeu nada com a violência que sofreu. Alertado sobre os excessos de suas falas e exemplos o presidente tem minimizado o problema e se eximido de qualquer culpa ou incitação à violência, até mesmo diante das imagens recentes do excelentíssimo empunhando uma câmara fotográfica como se fosse uma arma e disparado: ‘vamos fuzilar a petralhada’. Cenas e palavras de apologia à tortura e violência tem sido constante ao longo do mandato.
A violência política é esse descalabro que tem início na intolerância às diferenças, que tem levado milhares de pessoas a experimentar uma sensação absurda de insegurança para se expressar politicamente.
O Datafolha, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública realizaram uma pesquisa que mostra que 67% da população brasileira está refém do medo da violência política e que, em apenas um mês 3,2% dos entrevistados relataram terem sido vítimas de ameaças por causa de suas convicções partidárias. A ameaça à democracia tem início nesse medo das pessoas de se posicionar, nesse silencio imposto pela divulgação de inúmeros casos de agressões e até mortes provocadas por desentendimento político.
Sabemos que numa democracia saudável se vive num estado que garante a todos os cidadãos a liberdade de se manifestarem e a democracia é o único regime que permite um ambiente de debate respeitoso. O que estamos vendo no país são cenas de irracionalidade, como um carro atravessando uma manifestação pacífica de adversários; o próprio mandatário do país, em reação irada, ao vivo num debate ataca uma jornalista, não se desculpa e abre precedente para um parlamentar aliado ameaçar a jornalista num outro momento. A violência política tem várias caras, várias formas de atingir, de tentar diminuir o oponente, como o caso ocorrido essa semana em Feira de Santana, (BA), onde um candidato a deputado federal teve a fachada de sua casa pichada com a frase racista ‘fique na senzala’; um senhor de Camboriú, (SC) foi morto a socos e pontapés por um jovem de 44 anos após discutirem sobre política em local público, cenas registradas juntadas ao Boletim de Ocorrência.
Até o juiz federal Renato Borelli, responsável pelo mandado de prisão do ex-ministro da Educação de Bolsonaro, denunciou que sofreu ameaças de perfis ligados a grupos de apoio ao presidente. O juiz teve o carro atingido por fezes e ovos, além de uma pedrada. O Conselho Nacional de Justiça recomendou que a Justiça Federal providencie medidas para sua proteção. A Polícia Federal está investigando os perfis dos valentões, até para saber se são homens reais ou se escondem atrás de robôs.
Não, não são dias fáceis, considerando que o número de casos de violência ocorridos devido a intolerância política pode ser imensamente maior do que os relatados na imprensa. A grande maioria dos casos não devem ter sidos notificados, mais um sinal da banalização da violência, num país armado até os dentes. De 2018 a 2022 o número de armas registradas subiu 473% e de acordo com o Anuário de Segurança Pública, 4,4 milhões de armas estão nas mãos de particulares, dos cidadãos do bem que se exaltam à menor contrariedade.
Como não ter medo?