O pior analfabeto

Imagine você pegar um livro, ler e não conseguir compreender o enredo, tomar um medicamento e não entender a posologia e contra-indicações, visitar uma cidade e não ter conhecimento algum desde a sua fundação.

Dentro da premissa que uma população plenamente alfabetizada seja a base central para promover o bem-estar e uma democracia que funcione bem, o Brasil está mal colocado. No Brasil, três em cada dez brasileiros são analfabetos funcionais, pessoas incapazes de organizar suas próprias ideias para expressá-las.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO –, é considerada alfabetizada a pessoa capaz de ler e escrever pelo menos um bilhete simples no seu idioma. Dentro desse conceito, a UNESCO define analfabetos funcionais como sendo as pessoas com menos de quatro anos de estudo. Mesmo que essas pessoas saibam ler e escrever frases simples, elas não possuem discernimento necessário para absorverem informações plenas, para tomarem decisões baseadas em leituras e estudos.

No passado a alfabetização era como uma ferramenta utilizada pela burocracia dos estados, comércio e pela igreja, que através da leitura, expandiam seus poderes e exerciam controle sobre o povo. Mas a partir do século 19 a instrução, sobretudo através da leitura tornou-se habilidade obrigatória para os indivíduos serem capazes de ter controle sobre as suas vidas.

Aprender a ler e escrever é o passo inicial do saber. Mas ler, ouvir e escrever são processos mais profundos, não apenas sons, repetições e vocabulário. Serve enfim, como instrumento para proteger as pessoas da exposição e exploração.

Estudando técnicas de persuasão eleitoral constata-se que a grande mídia e profissionais de marketing político optam por adotar um formato que concilia mensagens repetidas, ingênuas e de fácil memorização visando encantar exatamente os indivíduos que não assimilam além do que ouvem e que não leem nem discutem política ao longo do ano. O analfabetismo político, uma insuficiência que atinge a sociedade brasileira em todas as classes, germina onde falta leitura, abstração, onde a manipulação lenta e gradual deforma os valores.

Sobre o analfabeto político, há um texto atribuído a Berthold Brecht, poeta e dramaturgo alemão: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo da vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio depende das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.”

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