Posicionar-se politicamente não significa permitir que as pessoas te usem como uma caixa de ressonância para expressar a opinião e opção delas.
A participação política é algo tão incrível quanto ameaçador. Li tempos atrás uma entrevista em que o ex senador republicano Fran Millar, disse não concordar e ter se preocupado com a decisão do governo americano de facilitar o acesso ao voto nas eleições, ampliando o número de urnas e locais de votação, sobretudo em regiões da periferia. Segundo o Senador, isso poderia elevar o número de eleitores negros e outras minorias e poderia promover mudanças não desejadas nos redutos Republicanos, além disso, o Senador disse que preferiria receber votos de pessoas mais educadas do que dos africanos americanos. A esta altura o Senador americano, derrotado, deve ter aprendido que na pequena cabine de votação o valor do voto é absolutamente igual.
A verdade sobre a política é encontrada onde nem todos se preocupam ou tem habilidade para enxergar. No livro O sinal e o ruído, o autor e estatístico Nate Silver diz que as pessoas gostam de política porque gostam de estatísticas, de previsões, tanto do tempo quanto do futuro e que mais de 90% dos fatos políticos são previsíveis, mas que ironicamente, a maioria das previsões são erradas, sobretudo devido às incertezas que permeiam todo o processo eleitoral. O autor tornou-se famoso nos Estados Unidos depois de fazer vários prognósticos corretos sobre o vencedor da corrida presidencial em 49 dos 50 estados americanos.
Falamos muito sobre política na superficialidade, fazemos prognósticos baseados em achismos e por isso a desinformação política é uma grande preocupação no período que antecede as eleições de outubro próximo. O Brasil é o sexto país no mundo com maior número de usuários de mídias sociais. Com mais de 147 milhões de usuários no país, o WhatsApp é um veículo muito popular e o mais eficaz para disseminar narrativas falsas e desinformação entre os eleitores brasileiros, sem deixar grandes pegadas digitais, o que significa que é impossível saber quantas pessoas viram um conteúdo ou como exatamente o conteúdo viajou, por meio de prints e compartilhamento.
Foi exatamente o que vivenciamos nos períodos críticos da Covid-19. Pesquisadores da Universidade de Pelotas descobriram que a desinformação, alarmes e notícias falsas eram em grande parte transmitidas a partir de bases pró-Bolsonaro, em grupos de WhatsApp. O Telegram tem sido, cada vez mais usado em divulgação para o mesmo fim, com a vantagem que os grupos podem ter 200 mil membros (os grupos do WhatsApp são limitados a 256). É importante ter critério quanto a escolha da fonte de informação que vai alimentar você e sua família.
O período de pré-campanha efetivamente começou e ao perceber a movimentação, você pode estar se perguntando se a sua participação política realmente pode fazer a diferença. Afirmo que sim. A começar, busque informação confiável, seu voto é o passaporte para seu futuro pelos próximos quatro anos. Não votar ou tratar com displicência o voto é rejeitar sua capacidade de influenciar a forma como sua vida será afetada pelas ações governamentais, que via de regra e nunca de forma linear, atingem todos. Individualmente seu voto pode parecer apenas um sussurro, mas quando o seu voto se soma com outros, o sussurro vira grito e todos ouvem.