Os desafios de um novo normal

Penso que pessoas expostas à mudanças radicais de comportamento durante um longo período, acabam mudando. Quando se abalam as bases de suas referências sociais os indivíduos mudam de lugar, adquirem outros horizontes e a vida segue. Nós somos incrivelmente capazes de nos adaptarmos a qualquer tipo de situação, não importa o quanto seja ruim.

A ansiedade pode perdurar e mudar profundamente a forma como as pessoas interagem umas com as outras por muito tempo, não creio que seja para sempre. 

É provável que as viagens continuem restritas, especialmente porque as sociedades que controlaram a contaminação por Covid-19 em sua população procuram impedir que novos casos surjam e estão fazendo a opção por manter as fronteiras seletivamente fechadas, como é o caso da Austrália, que no momento ainda mantém a opção pela não vacinação de seus residentes, devido ao baixíssimo número de casos. O país, há meses retomou a vida de antes, não   há obrigatoriedade sequer do uso de máscaras e os grandes eventos estão autorizados.

Pode haver momentos e lugares onde as restrições estejam diminuindo, seja porque os casos diminuíram localmente ou em resposta a pressões políticas ou econômicas, como é o caso do Brasil. Mas enquanto o vírus persistir em algum lugar do mundo, a ameaça de novos surtos e o retorno ao bloqueio de fronteiras permanecerão.

O trabalho remoto e as reuniões virtuais, o impacto mais óbvio da pandemia, provavelmente continuarão firmes e a volta das reuniões presenciais, palestras e cursos se darão de forma controlada. As viagens a trabalho foram sensivelmente reduzidas e adaptadas para reuniões virtuais e assim devem permanecer.

Muitos consumidores descobriram a conveniência de comprar on-line. Em 2020, a participação do comércio eletrônico cresceu até cinco vezes mais do que a taxa antes da COVID-19. Muito provavelmente grande parte das pessoas que eventualmente compram on-line durante a pandemia, continuarão a fazê-lo quando as coisas estabilizarem.

São múltiplas e notáveis as transformações em curso e uma visão quase universal é que a relação das pessoas, não todas, com a tecnologia se aprofundou e aprofundará mais à medida que segmentos maiores da população passarem a depender mais de conexões digitais para o trabalho, educação, saúde, compras e interações sociais.

Aqui estamos falando de uma classe privilegiada que pede comida por aplicativo, participa de Lives, assiste aulas on-line, faz compras virtuais, entretanto, a sociedade não é única, desdobra-se em grupos, classes, nem todos vivemos no mesmo tempo. A pandemia está testando a resiliência das comunidades em todo o mundo, exacerbando as desigualdades existentes, tornando visível aqueles para quem o mundo virtual não existe ainda, aqueles que carregam em si um passado de pobreza que nunca muda.

De toda forma, embora não seja suficiente, uma rede de solidariedade foi ativada através dos auxílios emergenciais, presenciamos mobilização para conseguir internação para pessoas em estado grave, uma rede de solidariedade correu a noite tentando comprar uma medicação de alto custo, arrecadação de alimentos para famílias cujo provedor estava infectado, solicitação de adoção de animais de estimação cujo dono faleceu de Covid-19.

Embora a pandemia seja causada por um vírus, as desigualdades realçadas neste período tem causas socias, cuja discussão tem sido sempre postergada. Não será diferente no momento pós pandemia.

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