O dicionário define austero como severo, duro e uma pessoa austera é alguém dotado de rígido comportamento e modo de vida sem conforto exagerado ou luxo. E se estendêssemos o significado a algo racional, um comportamento que beneficiaria nosso modo de vida, em vez de arruiná-lo, um comportamento que não trouxesse sacrifício, mas o entendimento de viver dentro de padrões de uma moral verdadeira?
A história mostra que os tempos austeros podem ter a capacidade de transformar as pessoas e as nações. Esparta, cidade-estado da Grécia antiga, tornou-se famosa pelo poderio militar de seus cidadãos através do seu modo austero de vida. Do nome desta cidade, a palavra \”espartano\” evoluiu e ainda hoje é usada para conotar abnegação.
A austeridade é provavelmente uma palavra que poucos pronunciam num contexto positivo; está inexoravelmente associada principalmente com o pessimismo econômico, com a perda do padrão de vida, sem qualquer objetivo de compensação à vista.
Mas há outro tipo de austeridade que hoje aqui exploro. A austeridade nos gestos, nos discursos políticos, a privação do sorriso, do abraço apertado, da esperança nos palanques. Os discursos inflamados, ainda remetem a mágoas passadas, os homens austeros sobem nos palanques inspirados pelo desejo de revanche e não olham nos olhinhos espremidos do que lá embaixo clamam por um afago, por uma palavra que lhes traga alento.
Engraçado como esses homens(e mulheres) conversam entre si nos discursos.
O povo, ah o povo! Esqueceram-se de falar com o povo. É por isso as urnas trazem surpresas, não para o povo, mas para os homens de palavras austeras, prometem cortar gastos, enxugar a máquina, que incontáveis vezes falam de seus projetos, mostram seus amigos, exibem força política. Mas e você que foi ao comício ou reunião política, como preferir, só para ouvir que sua vida vai melhorar, que seus filhos serão transformados em cidadãos dignos pela educação de qualidade que os alimenta e ensina enquanto você trabalha. Não viram você lá?
A alegria, a transmissão da esperança, o diálogo, a troca de carinho podem estar em cima de qualquer palanque e isso não comprometeria o rigor e a seriedade da campanha. Os homens de virtude serena não são fracos, embora isso lhes conceda pouca glória. Mas creia-me é possível adotar o agir político, cujo critério principal não seja apenas a conquista do poder em si. É a outra face da política, é deixar aflorar as virtudes elevadas da gentileza, da prudência, da honestidade, da temperança, da alegria, da tranquilidade e da boa educação. Abaixa-te e escuta o que te dizem.
As medidas de austeridade devem ser deixadas a esfera econômica, onde tem potencial positivo para reduzir o consumo excessivo e levar as pessoas a pensar com mais criatividade sobre o futuro, fazer escolhas de novos estilos de vida, abrindo mão de atividades não-essenciais que permeiam a vida moderna.
Politicamente as virtudes não precisam ser diagnosticadas fracas ou fortes. Nenhuma virtude renega a simplicidade e a tolerância. Há controvérsias, mas eu li e aprecio a teoria de que a base que sustenta uma boa república, mais até do que as boas leis, é a virtude dos seus cidadãos.