Pacificação e reconciliação

Tenho expressado aqui a minha preocupação com o ambiente hostil, com a campanha difamatória em andamento, com os ataques contínuos contra as instituições democráticas, atos de intimidação e ataques online e offline. O Brasil entra na reta final de sua temporada de campanha, com uma enxurrada de ameaças de morte motivadas pela política, agressões e até assassinatos e em todo o país há o medo de uma violência mais generalizada ainda após a eleição de hoje. Autoridades e analistas confirmam que nesta temporada eleitoral houve um aumento incomum nos ataques entre apoiadores dos candidatos.

Feliciano Guimarães, diretor acadêmico do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) no Rio de Janeiro, falou sobre o recente aumento nos ataques. “Embora sempre tenha havido violência política perto das eleições, era muito fragmentada e mais sobre questões locais do que motivações nacionais. Mesmo que os piores temores não se concretizem, a eleição terá efeitos duradouros. A polarização política que temos no Brasil hoje e os ataques ativos às instituições são muito perigosos para o sistema político”.

Mas precisamos caçar jeito para falarmos sobre a pacificação do país, a reconciliação com amigos e familiares, dos quais nos afastamos, porque permitimos que divergências políticas adentrassem a esfera familiar. A reconciliação é a chave para o futuro de uma sociedade pacífica, justa, democrática e inclusiva.

A palavra “reconciliação” é frequentemente usada no discurso público. Somos um país com profundas raízes espirituais, os brasileiros dizem que a religião é importante para suas vidas, e, portanto, não surpreende que a reconciliação para muitos, esteja ligada ao perdão. Muitas tradições de fé entendem a reconciliação como um processo restaurativo recíproco, é importante reconhecer que a reconciliação não é uma atitude mas a combinação de processos que, em conjunto, conseguem abordar o passado, seguir, construir confiança, construir coesão social e criar paz sustentável.

No primeiro turno das eleições tivemos um cenário de vitória histórica para a diversidade. Duas mulheres indígenas e duas mulheres trans foram eleitas e certamente o foco dessas ativistas deve ser a transformação do Congresso em uma casa mais inclusiva que possa promover, avançar e implementar políticas favoráveis à proteção do meio ambiente e contenção do racismo e preconceito.

Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida, nos deu uma receita singela para instalarmos aqui a pátria ideal: “para ser pátria amada não pode ser pátria armada. Para ser pátria amada, devemos ser uma república sem mentiras e sem fake news. Pátria amada sem corrupção, pátria amada com fraternidade”. Seguir nessa direção pode ser o começo.

No momento em que preparava para enviar esse artigo, a deputada Carla Zambelli, desequilibrada, sacava uma arma e apontava para uma pessoa em uma rua de São Paulo. Senti-me ingênua e tola, escrevendo sobre paz e reconciliação.

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