O filho de uma amiga faleceu num acidente de carro, aos vinte e seis anos.
Impressionante como a morte deixa-nos sem palavras, perplexos diante do irremediável. Ao abraça-la pensei: “ nada que eu disser vai aliviar a dor ou trazer conforto”.
Voltei ao meu passado e lembrei-me das duas situações de perda que enfrentei num período de 05 anos. Ao perder meu irmão aos 40 anos, de forma inesperada e trágica , o chão abriu-se aos meus pés. Havia feito a opção de abandonar minha vida profissional para juntar-me a ele no projeto político dele, estava ainda aprendendo, conhecendo o tabuleiro, o jogo e as pessoas quando o acidente ocorreu… Lembro-me do carinho que as pessoas dedicaram a mim e a minha família no momento que recebemos a notícia, mas lembro-me também que a maioria das pessoas, ao abraçar-me jogavam um peso enorme nos meus ombros fragilizados, ao sussurrarem nos meus ouvidos: “ você é forte, você tem que ser forte, precisa ser forte…forte”.
Eu senti-me incompreendida, desamparada. Ser forte era tudo o que não queria ser naquele momento. O que queria de fato, era ter o direito de desabar literalmente ali, na frente do governador, deputados, amigos e familiares, dos desconhecidos. Eu só queria um abraço bem demorado, um ombro e silêncio. Não há como dividir ou transferir a dor, não essa dor.
A dor é imensurável! O que representa uma pessoa na sua vida, só você sabe. A dor da perda, no meu caso, eu quis senti-la até sangrar, eu não quis esquecer, eu não fugi de nenhuma lembrança.
Cinco anos depois, perdi meu marido… assunto que interiormente não resolvi ainda, do qual não gosto de falar!
Hoje comportei-me exatamente como queria que tivessem se comportado comigo; abracei, emprestei meu ombro e fiquei em silêncio. Minha solidariedade expressei em gestos e lembrei-me vagamente de uma música que dizia; “ when I have nothing to say, my lips are seal – quando não tenho o que dizer, meus lábios ficam selados”.