“Quem habita este planeta, não é o homem, são os homens. A pluralidade é a lei da terra”. Hannah Arendt.
A pluralidade é a condição humana por meio da qual somos semelhantes e, portanto, humanos, embora sejamos também diferentes, pois não há nenhum de nós que seja exatamente idêntico a qualquer outro que exista ou tenha existido. O pluralismo muito se assemelha à compreensão filosófica de Bobbio sobre a tolerância, na aceitação das múltiplas verdades. No entanto há várias graduações de tolerância e são vários os locais de sua manifestação e seu seio pode contemplar muitos intolerantes também. Assim temos duas escolhas a fazer quanto a isso: aceitar a convivência com a intolerância latente, ou lutar constantemente contra ela.
Na condição de seres humanos somos plurais. Somos indivíduos portadores de algumas semelhanças e diferenças irreconciliáveis. A modernidade do mundo expõe as revoluções tecnológicas e morais, colaborando para colocar em xeque identidades relativamente estáveis e sólidas. Mas uma coisa é a incompatibilidade das verdades, outra é o problema dos preconceitos sociais e culturais contra a diversidade. É um alento saber que há caminhos múltiplos, pessoas diferentes, opiniões diversas, comportamentos ousados, moderados. Isso não significa que estamos irremediavelmente ameaçados.
Ao contrário, isso significa liberdade e uma grande oportunidade para aprender a olhar, entender, aceitar e deixar ir. Quem habita esse planeta são seres múltiplos, complexos, que se não são tolerantes por dom, podem ser por hábito.
Geralmente os grupos sociais trazem em si uma ideia persistente e quase sempre deslocada, carregada de generalizações preconceituosas e superficiais sobre os outros grupos.
A tolerância existe como um dever ético, onde não há renuncia da própria verdade, mas um princípio moral absoluto em respeitar o que é diferente. Deveria ser irrelevante as condições de gênero, de raça e condição social nas nossas relações diárias. Mas ainda causa reboliço imenso o beijo gay na novela e a movimentação dos jovens da periferia rumo aos shoppings. Impressionante como a estrutura se desarma com as novidades!
A intolerância golpeia geralmente as minorias que tentam vir à tona, respirar na superfície de um espaço que certos setores da sociedade julgam-se donos.
Eu creio que o verdadeiro segredo para que as transformações ocorram está ligado a questões culturais. A solução para a intolerância e os confrontos da diversidade é a alfabetização cultural, uma revisão dos valores dominantes, a aceitação como forma de contribuir para construir um mundo menos desigual. Pois para se libertarem da intolerância os homens precisam antes de mais nada, viver numa sociedade realmente livre.
“O respeito e o amor devem se estender também àqueles que pensam e operam diferentemente de nós nas coisas sociais, políticas e até mesmo religiosas, pois com quanto mais humanidade e amor entrarmos em seu modo de sentir, tão mais facilmente poderemos iniciar com eles um diálogo”. Trecho da Constituição Apostólica do Concílio Vaticano II.