O jogo político de 2022 efetivamente começou. Tento me recluir para ler, pensar, matutar bem a questão, sedimentar minha posição para o ano que vem. Vejamos o que já temos colocado no tabuleiro:
O presidente Bolsonaro já definiu o novo partido (PL), pelo qual disputará à reeleição, o ex-presidente Lula, segue fiel ao partido dos Trabalhadores e ambos aguardam a confirmação das candidaturas que brigam entre si pelo posto cobiçado de terceira via das eleições presidenciais.
Os tucanos escolheram o governador João Dória para ser candidato a presidente, Ciro Gomes não entra em disputa interna no partido, onde é candidato praticamente unânime, o ex-juiz Sérgio Moro, filiou-se ao Podemos e entrou definitivamente na disputa.
Na última semana, o MDB apresentou a senadora Simone Tebet como candidata a presidente. Mulher sensível e engajada, presidiu a Comissão de Justiça no Senado. Se ela se apropriar de um discurso destemido, contemplando as pautas de interesse do público feminino, pode fazer bonito na eleição, considerando a lógica de que as mulheres são detentoras de 52% dos votos.
Detalhes, uns atraentes, outros intrigantes são adicionados aos arranjos para viabilizar as candidaturas majoritárias; de um lado, ideologias que polarizam crônicamente as discussões e do outro lado, as tais federações que devem unir num bloco só vários partidos para reforçar determinadas candidaturas. No âmbito da polarização, pelo que temos percebido nas pesquisas, Bolsonaro e Lula somados deixam espaço apenas para mais um candidato com chance de ser bem votado e interferir no resultado do primeiro turno. Esse voto, no terceiro colocado, será o voto útil, ao qual muitos amigos e analistas tendem convergir como opção.
Muito difícil porém, combinar esta estratégia com os eleitores não ideológicos, que embora queiram evitar um segundo turno polarizado entre Lula e Bolsonaro, estão espalhados e alheios, esperando as pesquisas sinalizarem crescimento real de Dória, Ciro, Moro, Simone, Mandeta ou quem mais surgir.
Localmente, não vivemos o cenário de polarização e a reeleição do governador Mauro Mendes é aparentemente tranquila, se o prefeito Emanuel Pinheiro não entrar efetivamente na disputa, como candidato, ele próprio. Nomes do agro, depois do case de sucesso do Blairo Maggi, vão surgir sempre, mas eleição de governador não é assim tão simples; eu quero, eu vou.
Como sabemos, Blairo era um nome conhecido nacionalmente como empresário, destacou-se quando foi suplente do senador Jonas e viabilizou-se politicamente com apoio de grandes nomes da política de Mato Grosso. Balbinotti, sem grupo de apoio, contando com possível amizade à distância com o presidente da República, não segura uma candidatura ao governo, deve estar ensaiando vôo para a Câmara Federal.
O prefeito Zé do Pátio é considerado um forte candidato ao governo, embora não tenha admitido isso ainda, viria apoiado por uma frente progressista vigorosa e protegido pela figura jurídica da federação, que obrigaria diversos partidos a apoiá-lo em nome da manutenção e fortalecimento da candidatura do ex-presidente Lula.
Mas, intempestivo, começou mal, atropelou o Partido dos Trabalhadores ao anunciar a criação de um comitê pró-Lula e avocar para si a coordenação da campanha no Estado, onde o Partido dos Trabalhadores tem uma bancada respeitavel de deputada federal (Rosa Neide) e dois deputados estaduais (Lúdio Cabral e Valdir Barranco).
Fora da majoritária observa-se o espaço que pode ser deixado na disputa de deputado federal com a saída do deputado Neri Geller para concorrer ao Senado. O grupo PSD/PP, que tem se mantido unido e ampliado a força com a eleição do senador Carlos Fávaro, não deve abrir mão de manter o espaço e tem cacifado o deputado Neri para acirrar o embate com o senador Wellington Fagundes em torno da única vaga oferecida ao Senado.
O senador Wellington Fagundes tem o palanque reforçado pelo correligionário Bolsonaro, o que é importante num estado que tem 141 municípios e 122 deles deram vitória a Bolsonaro em 2018.
Porém, a realidade hoje é outra depois de 616 mil mortos pela Covid e descontrole no aumento do custo de vida, com a gasolina em alta de 40% no ano de 2021, empurrando a inflação de setembro para 10,25%, o maior índice dos últimos 27 anos. Isto sim, pode ser determinante numa eleição.
Lembramos que análise política não deve ser guardada nem para a semana seguinte. Retrata o momento em que a conversa acontece e muito pouco além.