A política não é um conceito contrário ou dissociado dos afetos. A política não é uma guerra simplesmente por juntar pessoas com posições, necessidades e interesses diferentes.
Espinosa e Nietzsche falaram dos afetos que nos libertam, dos que podem nos aprisionar e dos que podem mudar nossas vidas. Para alguns filósofos, a política é considerada o meio-termo entre o conflito e as paixões.
Espinosa, inclusive, ao criticar o aspecto dos afetos tristes que circundam a política, elabora uma reflexão ética pautada na tentativa de compreender as motivações das mais diversas paixões humanas e como o afetose desenvolve através do processamento das interações rotineiras entre as pessoas.
O filósofo brasileiro Vladimir Safatle, professor da USP, escreveu o livro \”O Circuito dos Afetos: Corpos Políticos, Desamparo e o Fim do Indivíduo\”. E, na linha dos filósofos citados, explorados tipos de afetos mais ligados à política: o medo, a esperança e a ideia de desamparo.
Ambos, medo e esperança, funcionam como expectativa de que um bem ocorra e a sensação de desamparo vem com a confirmação de que o bem nem sempre se realiza.
A tese central do livro é sobre a exploração do medo pelos políticos, um afeto que nega a esperança e entrega o cidadão ao desamparo porque, segundo o autor, insistimos em viver sobre um modelo de política ultrapassado, que coloca o medo presente na lógica do estado, que, por não conseguir garantir a segurança, atua como um gestor que controla a insegurança, para se ter nas mão um instrumento de coerção, sempre que precisar.
Mas, tem como os cidadãos entrarem na batalha política mais leves? Tem como ter ternura nesse mundo absurdamente sem paciência excludente e surdo? A teoria dos afetos contribui para esclarecer os descompassos que regem os vínculos e interações e não diz respeito apenas à vida particular dos sujeitos, mas adentra na perspectiva de compreender o funcionamento das esferas públicas também.
A política pode ser, portanto, um modo de produção de afetos e, ao mesmo tempo, ser a base afetiva que sustenta e mantém a existência. Em Vladimir Safatle, por exemplo, quando uma sociedade desaba, leva consigo os sujeitos que ela mesma criou para reproduzir sentimentos e sofrimentos.