Na cultura política os líderes modernos estão menos dispostos a admitir a falibilidade. Não assumem culpas e dizem sempre que \”erros foram cometidos”, de forma aleatória, passiva e distanciada do reconhecimento do erro. Os políticos tem seus bodes expiatórios, sobre quem recai as culpas para dar aos governos a liberdade de agir de determinadas maneiras.
Nos governos há o que se descreve como a cultura de culpar os outros para evitar assumir a responsabilidade por atos falhos. Estamos nos acostumando a categorizar, estigmatizar e colocar a culpa nos outros. Há muitas teorias sobre porque temos essa tendência de transferir culpas e parece que isso é algo intrínseco do nosso ser por medo do castigo. Nós desenvolvemos essa habilidade de culpar os outros muito cedo. Assim desde criança usamos o refrão “foi ele quem começou”, já passando a responsabilidade para outra criança. Na vida adulta, os casais se culpam mutuamente pela infelicidade, pela infidelidade não para terminarem o casamento, mas para dar-lhe sobrevida artificial.
Os erros e sofrimento são partes inevitáveis da vida. Entre nascer e morrer os homens lutam para permanecer vivos. O corpo físico é exposto a perigos constantes; a fome, violência, acidentes, envelhecimento e morte são os mais eminentes. E sofremos de dentro para fora ao considerar as forças naturais que nos ameaçam.
Pessoas gemem, reclamam e inventam desculpas por não terem amigos, por não conseguirem acumular dinheiro, por não serem promovidas e amadas. Todos os infortúnios são causados por ação de terceiros. Algumas, não poucas pessoas gostam desse artifício de posar de vítima. Assim é mais fácil aceitar as próprias limitações, os desvios do curso natural da vida. Enquanto a verdade recai nas escolhas, na responsabilidade. Tudo o que fazemos é porque decidimos fazer isso em vez daquilo.
Há uma diferença entre ser vítima e ter uma mentalidade de vítima. Muitas pessoas são vítimas de terríveis experiências, provas e traumas físico, sexual e emocional. Fazer-se de vítima é diferente e ocorre sobretudo quando em vez de assumir responsabilidades, o poder da tomada de decisão é transferido a outros. A mentalidade de vítima é aquela em que culpa-se os outros para sentir alívio e se nunca a culpa lhe recai, tampouco a responsabilidade lhe pode ser cobrada. Vai ser sempre a vítima e esse círculo vicioso levam as vítimas a imputarem culpas às suas famílias por falta de apoio ou alegam que a família negligencia atenção e cuidado ou mesmo que influencia negativamente suas vidas.
Muitas pessoas simplesmente se acomodam nessa condição, porque rende-lhes atenção, foco, comentários bajuladores; “como é triste você ter que passar por tudo isso, como é terrível que tenha sido tratado dessa maneira, você não merece isso”! As pessoas em volta desenvolvem um sentimento de validação dessa hipocrisia.