Problema feminino não é mero complemento

ACâmara dos Deputados comemorou com a devida honra os 10 anos de criação da Secretaria da Mulher na Casa, que hoje tem uma bancada de 92 deputadas (já incluída Gisela Simona) num universo de 513 parlamentares. A sub-representação ainda é gritante, já que a União Interparlamentar indica que a participação de mulheres nos parlamentos global é de 26%. Por aqui, patinamos em míseros 17%.

Embora o percentual de mulheres eleitas seja menor do que o de homens, os indicadores da Câmara Federal, publicados pela Agência Câmara de Notícias, registram que as deputadas apresentam mais projetos, proporcionalmente que os homens. Desde a criação da Secretaria da Mulher, em 2013, até o final de 2022, as leis aprovadas a partir de proposições e articulação da bancada feminina, que já foi chamada de “Bancada do Batom”, tem pautas ligadas a saúde, combate às diversas formas de violência, educação, mercado de trabalho, assistência e garantias de direitos.

Pois bem, é inegável que o cenário da participação da mulher na política está longe de ser o ideal e volto a um passado recente para lembrar da pré-campanha do Senador americano Bernie Sanders, principal rival de Joe Biden no Partido Democrata às eleições de 2020, onde também concorria, uma mulher, a senadora Elizabeth Warren. Com um discurso alinhado às pautas femininas foi Bernie Sanders o escolhido pelas mulheres famosas em seus trabalhos e discursos pela igualdade de tratamento, pagamento e prestígio a homens e mulheres nas mesmas condições de classe e de trabalho.

 A filósofa Nancy Fraser, professora de Filosofia e Política, sempre apontou as mulheres como as principais responsáveis ​​pela segurança e sobrevivência das famílias e das comunidades. De acordo com Fraser, as mulheres são as responsáveis ​​globalmente pela criação da próxima geração, tentando proteger as crianças quando fogem da violência em casa e enfrentam as fronteiras militarizadas que prendem até crianças.

Ela liderou um movimento intenso demonstrando às mulheres que embora a Senadora Warren fosse um nome respeitável, o discurso e as pautas que ela defendia não representavam os ideais femininos e feministas, da grande maioria dos trabalhadores com salários baixos. E as mulheres representavam essa maioria e aumento do salário-mínimo, aumentaria a liberdade feminina, tanto em casa quanto no trabalho. E dar as mulheres mais direitos nas negociações, daria a elas uma arma mais poderosa na luta contra o assédio e agressão sexual, sobretudo nos locais de trabalho. Puxou coro para que o apoio das mulheres fosse para o candidato que havia pautado o aumento do salário-mínimo, questões de gêneros, uma colocação da mulher por inteira dentro da sociedade como mote principal da campanha.

Criticada por apoiar um candidato homem, Nancy Fraser justificou: “Não nos interpretem mal. Gostaríamos de ver uma mulher presidente tanto quanto qualquer outra pessoa. Mas isso não pode nos custar a chance de construir um movimento que possa realmente melhorar a vida da grande maioria das mulheres”.

O respeito às pautas femininas não é prioritário em país nenhum, mas ganham relevância, cobranças e impulsionam positivamente a agenda dos grandes líderes. Ainda, um complemento. Ao final, Bernie Sanders recuou à candidatura e para apoiar Joe Biden, o fez assumir publicamente os compromissos assumidos com as lideranças femininas e feministas, apresentadas a ele pela filósofa Nancy Fraser.

Daqui há pouco começa a campanha para 2024 e não basta escolher uma candidata ou candidato que tenha alguma proposta feminina no seu programa. Precisamos apoiar uma campanha comprometida com a mudança estrutural que as mulheres precisam. 

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