O homem livre é o homem consciente de suas possibilidades e de seus limites em sua relação com os outros. Não é apenas pela superação da ignorância, mas também pelo agir pautado pelo zelo coletivo, que nos tornamos livres e responsáveis enquanto cidadãos.
A rigor não precisamos descer ao nível de sermos indiferentes à vida alheia, assim como não devemos nos apropriar da vida alheia no sentido do que é importante ou insignificante. Na justa medida devemos ser espectadores, imparciais quanto aos julgamentos e estimular que as diferenças e valores venham a prevalecer para nos tornar cada vez mais, seres singulares, com gosto e estilos de vida próprios, seja excêntrico, sofisticado, “farofeiro” ou moderado.
Nós somos capazes de nos alegrar com o que acontece com os outros, entretanto, estamos navegando na estreiteza da mente, que faz com que olhemos para todas as experiências a partir das nossas próprias. Estamos exercendo vigilância aterrorizadora nas vidas alheias, para expor e perpetuar nossas diferenças sociais e reafirmar nosso estilo de vida sobre o do outro.
Transferimos para as fotos a busca das confirmações que precisamos para partir para os atos deliberados de bisbilhotice nas digitais sociais, que foram deixadas nos destinos, nas roupas, comida, praias e hotéis por onde passaram nossos amigos e conhecidos.
Em que pese termos tantas questões prementes e profundas para discutir, no mundo descortinado pelas mídias sociais não há vestígios de preocupação nem satisfação de uns pela felicidade dos outros. O que há num plano minimamente civilizado, são comparações, comentários desmerecedores, julgamentos preconceituosos e uma pontinha de inveja e deboche e assim no exercício vulgar de rotular os chiques e os bregas, os grupos foram passando a foto de um político com a família e amigos, comentando “com tantos lugares para ir, viu onde foram passar as férias?”
É impressionante como somos denunciados, estigmatizados, categorizados e julgados pelo estilo de vida que exibimos. Isso fica mais evidenciado no período pós final de ano, onde dado aos excessos de bebidas, gastos e exposição das superficialidades, ouvimos e às vezes fazemos coro aos comentários sobre como as pessoas que ascendem social e economicamente, escolhem gastar seu dinheiro.
Se de um lado temos as escolhas consideradas mal inspiradas por uns, do outro confirma-se o racismo de classe, denotado na arrogância dos que pensam que tudo tem que estar no seu campo de interesse e só merecem ascender na vida quem tem planos para as frivolidades do mundo ilusório.
Quando vamos aprender a cuidar de nossas próprias vidas e parar de nos desestruturar dentro de papéis conflituosos que só servem para desviar o foco das ações centrais?