A Universidade de York, no Canadá publicou um estudo na revista Science, onde aponta que a maior parte das pessoas diz que desaprova qualquer ato racista, mas muitos sequer apresentam sinal de desconforto ou reagem com indiferença ao presenciar a injustiça. O problema emerge quando em vez de acreditar que minha identidade é única, o que é verdade para todos os seres, eu acredito que sou um ser supremo.
Vinicius Jr. joga pelo Real Madrid, na Espanha e tem sofrido repetidos ataques racistas de torcedores de times rivais, como o próprio jogador desabafou: “não foi a primeira vez, nem a segunda, nem a terceira. O racismo, é normal na liga de futebol da Espanha”. Em janeiro deste ano, simularam o enforcamento de um boneco que usava a camisa de Vini Jr.
Desta vez, o jogador decidiu gritar, apontar para os racistas e a repercussão foi enorme na Espanha e mundo afora. Manifestação de apoio surgiu de estrelas da música, do esporte, de políticos importantes, como o Primeiro-ministro da Espanha e dos torcedores brasileiros. Postura firme teve o treinador do Real Madrid logo após o final do jogo contra o Valência, quando na entrevista coletiva lhe fizeram uma pergunta sobre futebol, ele disse: ‘‘Não quero falar sobre futebol. Eu quero falar sobre o que acabou de acontecer aqui neste estádio”.
A partir daí, a atenção dada ao intolerável caso de racismo, pode ser divisor de águas na luta contra o racismo no futebol. As autoridades locais nunca haviam agido tão rapidamente contra os torcedores que insultaram os jogadores, e nunca os dirigentes do futebol haviam punido um clube com tamanha severidade pelo comportamento racista de seus torcedores, como a multa aplicada ao Valência, a maior que um clube espanhol já recebeu, o time teve também, parte de seus assentos no estádio fechados por 5 jogos.
Diante dos holofotes, o jogador Vinicius Jr, apontou o dedo para aqueles que o xingaram em Valência e apesar de haver contabilizado apoios importantes, poucos espanhóis entrevistados por um jornal inglês, admitem que algo pode mudar daqui para frente. Apesar da prisão de sete torcedores, até o momento, ninguém jamais foi a julgamento na Espanha por ataques racistas a um jogador.
O incidente envolvendo o jogador brasileiro, me fez lembrar de um passado recente, ano de 2012, quando estabeleci o primeiro contato com um grupo de haitianos que havia chegado a Cuiabá, buscando trabalho nas obras da Copa do Mundo, sobretudo na construção da Arena Pantanal.
Decidi dedicar meu tempo e afeto para tornar menos sofrida a história de suas diásporas. Nas observações entrevistas que fiz, ficava cada vez mais claro que os haitianos estavam vivendo entre si, sem nenhuma oportunidade de entrar na vida da sociedade cuiabana, porque o Cuiabano não se dignou a dar-lhes importância.
Os haitianos, negros, diariamente confundidos com africanos pelas ruas de Cuiabá, esperavam que a qualquer momento os muros rompessem e eles pudessem participar efetivamente da vida social e cultural de Cuiabá. Embora não estivessem, por imposição segregados a um espaço físico, a condição econômica desfavorável encarregou-se de fazê-lo. Havia e ainda há vários minis Haitis espalhados pela capital. Os cuiabanos não xingaram os negros haitianos nem expressaram grosseira xenofobia. Os cuiabanos ficaram distantes, indiferentes. Cuiabanos de um lado, os haitianos de outro.
O racismo se alimenta da indiferença!