Redescobrindo a intimidade

A maioria das pessoas relacionam intimidade apenas com o sexo, enquanto intimidade é o nível de proximidade que se pode ter com as pessoas. É o que acontece entre você, seu parceiro, amigos e familiares, é o momento regado a vinho, bom enredo, onde as conexões são construídas e você vê reflexos de si mesmo no contexto do outro. A intimidade nunca é monogâmica, porque ocorre em várias esferas de relacionamentos e é invariavelmente a prática da reciprocidade. Outra coisa é confundir intimidade com intensidade, e se envolver em relacionamentos onde a paixão está na superficialidade do ar. A verdade é que temos dificuldades com a intimidade, tanto para entende-la quanto para vivencia-la.

Assim, a construção cotidiana da intimidade enxerga a verdade, por isso é um processo arriscado, delicado, que nos faz experimentar a sensação de dependência do outro. Neste universo que a toda hora nos cobra para sermos competitivos, deixar à vista os sentimentos pode ser entendido como um sinal de fraqueza e para evitar a vulnerabilidade exibimos nossa força e independência. Creio que seja mais difícil ainda para os homens, que desde idade muito tenra são ensinados a não deixar os sentimentos excessivamente à mostras.

Quando alguém entra definitivamente em nossas vidas, a intimidade deve ser consentida, os sentimentos devem ser discutidos, os momentos de amor e dor devem ser compartilhados. Numa via de mão dupla devemos verificar os sentimentos dos outros e manter os nossos igualmente aflorados. Para vivermos em intimidade precisamos primeiro ter claro quem somos, o que queremos e o que é verdadeiramente importante para nós, para então permitirmos que nossa essência seja plenamente desnudada.

A bem da verdade, estamos em fase de evitar o confronto íntimo, porque há uma imensidão de relacionamentos frouxos, que nada cobram, nada acrescentam contudo. Seria como se estivéssemos escrevendo o diário intimo de um entre fabricado virtualmente . Abrimos nossa intimidade para estranhos nas mídias sociais, acreditando que conhecendo o cotidiano íntimo dos outros, possamos ter referências para avaliar nossa própria intimidade, não sei. Mas é fato que as novas tecnologias estão nos levando a uma exposição desmedida da nossa intimidade e muita curiosidade pela intimidade do outro.

Ainda assim, talvez movidos pelo medo, abrimos espaço para certa intimidade, mas mantemos, ao mesmo tempo, um relativo afastamento, erguemos uma barreira emocional por medo de sermos descobertos imortais, inseguros, imperfeitos. Medo de sermos descobertos egoístas, empenhados na nossa própria salvação.
Há estudos que afirmam que quando a intimidade do relacionamento não é satisfatória, sobretudo na vertente amorosa, para as mulheres, a separação é inevitável, o que não ocorre com os homens. A nossa cultura ainda promove a excelência do homem arredio, invulnerável, embora a intimidade reforça os traços e não deforma as formas.

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