Há 4 dias morreu o sociólogo francês Alain Touraine e seu livro “Podemos Viver Juntos?” transversalmente resvala ao tema da reparação às injustiças, ao tempo em que deixa lições inesquecíveis, rejeitando a ideia romântica de que agora vivemos juntos como iguais, compartilhando os mesmos valores sociais e culturais. Touraine afirma que, na verdade, nossas diferenças estão cada dia mais intensificadas. Estamos, segundo o sociólogo, “vivendo o desaparecimento de todas as linguagens, discursos e instituições que nos protegiam. Estamos nos tornando pessoas dessocializadas e indiferentes às lutas dos outros e que hoje, vivemos todos, sob o critério do prazer, da utilidade e do interesse. Não nos interessamos por nada que não seja do nosso interesse.”
Toda injustiça deixa como legado a tendência de naturalização do mal praticado e é difícil admitir a falência do pensamento em compreender a desordem atual e criar reflexões a partir das novas conexões que dispomos. É difícil rever o modo como pensamos, o modo como capturamos em conceitos o que já admitimos com nossos sentimentos e atitudes.
A reparação das ofensas e violências forjada na luta dos movimentos sociais, da cobrança sistemática de parte da sociedade, que não adormece diante das injustiças e atrocidades cometidas, não necessariamente precisa ser financeira, mas em investimentos em programas de ação afirmativa no longo prazo, para que se possa mudar a forma de pensar que justificou a escravidão e ainda justifica o racismo, a violência doméstica, abusos sexuais e outras formas de injustiça e agressão, como os casos recentes de assédio do padre de Primavera do Leste, os casos dos estupros cometidos pelo pastor em São Paulo, que amedrontava os meninos alegando que o diabo pegaria suas almas caso não fizessem sexo com ele.
Há o caso recente de racismo contra o jogador brasileiro Vini Jr na Espanha e há o caso dessa semana, onde uma senhora branca impede a passagem de um jovem negro cadeirante no corredor do ônibus e ao ser interpelada, ela questiona: “Estamos na floresta?”
Não seria necessário perguntar o que ela quis dizer com isso. Ela não quis dizer, ela disse e reproduziu os comentários racistas ouvido pelo jogador dias atrás, sem constrangimento algum, sendo filmada.
No caso da violência doméstica já se aplica práticas reparadoras concretas: “Verifico que a ofendida suportou malefícios causados pela violência sofrida na condição de mulher, transtornos e aborrecimentos que lhe causaram sofrimento, fato que causa lesão à dignidade subjetiva da vítima, configurando danos morais,” diz o trecho de uma decisão judicial favorável à vítima.
Sim, financeiramente é possível cobrar reparação na justiça, embora nem sempre seja possível, de forma justa precificar a dor vivenciada. Mas a crueldade, o preconceito, a violência, o assédio precisam deixar de existir na mente doente dos acusados. O estupro é um ataque e quem o pratica, sobretudo em ambiente religioso, onde o tema é considerado tabu, sabe que raramente será denunciado. Como reparar a mente perturbadora de homens que habitam este vasto mundo onde os controles sociais estão debilitados e a fronteira entre o normal e o patológico, o permitido e o proibido perdem sua nitidez?
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