Não pode haver dúvida sobre os avanços que aconteceram nos últimos anos. A vida em quase todos os lugares é muito melhor do que era durante a primeira parte do século passado; comemos melhor, somos mais saudáveis, vivemos mais, há mais oportunidades para ampliar o conhecimento, mas a pergunta persiste: Por que, no meio de tanto avanço e oportunidade, a satisfação tem diminuído tanto?
Porque é a depressão a doença mais comum no mundo ocidental? Doenças funcionais como cansaço constante, a incapacidade de dormir e ansiedade são causados por falha do corpo para adaptar-se às mudança sociais bruscas, atividades excessivas e pressões.
A era tecnológica que deveria nos trazer a liberdade, permitindo-nos uma maior flexibilidade, está de fato, nos consumindo. Pensávamos que seríamos beneficiados pela invenção das máquinas que executam inclusive serviços domésticos, mas continuamos estressados, pressionados pelo tempo, exaustos, porque fomos liberados para produzir mais. O tempo está ficando escasso para dormir, ler e até o sexo está fora da agenda, porque, sim, estamos muito cansados para sexo, também.
A exaustão é agora tão essencial para nosso estilo de vida porque ela nos fornece desculpas para praticamente todos os nossos fracassos.
O ritmo está puxado! E consequentemente, o cansaço tem evoluído para doença. Enfim, estamos todos absolutamente aterrorizados pela instabilidade e mesmo que o trabalho seja estimulante, corpo e mente estão absorvendo informações demais, cobranças demais, incompreensão demais.
Puxamos, esticamos, mas a falta de tempo está sufocando e evidenciando os sinais de irritabilidade, impaciência, raiva mal contida, indignação. Perde-se gradualmente a capacidade de perceber, saborear, desfrutar bons e longos momentos perdidos numa leitura ou lazer com a família e amigos.
A exaustão muitas vezes pode mascarar outro tipo de ansiedade: a ganância, ou uma espécie de cobiça. Pessoas bem-educadas, inteligentes, trabalham alucinadas por bens materiais, ficam exaustas e acham que não podem parar, enquanto que, em verdade, a luta toda é uma questão de manter o status.
Porém, eu diria que nem todo mundo que está esgotado está perseguindo o sonho capitalista. É a sociedade que nos diz que podemos ter tudo, ser quem queremos ser, que devemos abraçar todos os projetos, mas não nos informa a profundidade do colapso a que seremos expostos.
Somos seres propensos a ter momentos de irritabilidade extrema, de carência, nostalgia, alegria, bom humor e tranquilidade. Desejamos paz de espírito e necessitamos que tanto o ambiente quanto os objetos que nos circundam expressem os valores que buscamos.
(O termo hipermodernidade, é utilizado pelo filosofo francêes Gilles Lipovetsky, descrevendo uma nova época onde a ordem social e econômica, juntamente com a cultura, são pautados pelo senso de consumo em massa, que ele nomeia como sociedade da moda).