Devemos buscar outras causas para a violência do que atribuí-las à religião. O terrorismo é a velha prática política de grupos radicais que recorrem à atos bárbaros contra pessoas ou coisas simbólicas, para provocar o terror, com ações que tem a priori o papel de vingar e atingir o centro de um poder. Os grupos radicais fazem dos atos de violência contra civis o principal instrumento de suas lutas. A ação terrorista supera os limites ideológicos, religiosos e não reconhece os limites territoriais, além disso, os extremistas quase nunca representam a totalidade da comunidade da qual fazem parte. O que parece claro é que seja quem foi o responsável pelo atentado na França, tentou-se uma jogada conhecida de atrair propaganda e apoiadores para o ato de selvageria. Violência não tem justificativa, embora possa ter causas.
É absolutamente repugnante e condenável qualquer violência praticada contra um ser humano, levando-se em conta que por ser humano, entende-se um ser revestido de pensamento, vontade, fé e liberdade. As razões, as provocações fazem parte do jogo democrático, da liberdade de expressão gozada pelos cidadãos franceses, até que os limites éticos da tolerância foram testados. Aí, a diferença cultural, a cultura do oriente e do ocidente se estranharam de forma traumática. A França, que foi o berço da cidadania moderna e desde a Revolução Francesa (1789) alimenta a tradição de idéias universalistas, que orgulha os franceses e seduz os estrangeiros, está confusa e busca entender como pôde o movimento jihadista penetrar e perfurar o posicionamento da sua cultura política de separação entre Igreja e Estado. Isto torna o ato terrorista um acontecimento mais chocante e perturbador.
Os estudos sobre a paz e conflitos tem ocupado minha mente. Não devemos cair em retrocesso civilizacional, não devemos limitar a liberdade, o pluralismo dos direitos, a democracia, pois que não é a diversidade de opiniões, mas a recusa da tolerância com os que tem origem, opinião e crença diferentes, que tem dado origem a maioria das guerras. É verdade que esses horrores não mancham a face da terra todos os dias, todavia, tem sido freqüentes. Como parar estes grupos terroristas? Como fazê-los entender que a ninguém é facultado o uso da espada para forçar os homens a adotar determinada fé, ou proibi-los de praticar outra religião? Como desmontar a bomba armada sob o pretexto de que a violência é um círculo que se repete infinitamente? O outro lado da moeda é reconhecer que a tolerância política e religiosa é maior virtude da democracia moderna.
Voltaire, o mais expressivo filósofo francês do período do Iluminismo, escreveu em O Tratado sobre a Tolerância, 1763: “Digo-vos que é preciso olhar todos os homens como nossos irmãos. Como! meu irmão, o turco? meu irmão, o chinês? o Judeu? o siamês? – Sim, sem dúvida. Não somos todos filhos do mesmo pai e criaturas do mesmo Deus? Possam todos os homens lembrar-se que são irmãos”