O mundo é um lugar imperfeito, que abriga, entre tantas coisas, uma multidão de pessoas excluídas, que não têm para onde ir, onde se divertir. A vida moderna tem criado fatos intrigantes e exposto os humanos à situações de instabilidades e desigualdades gritantes e agora as instituições, como a família, a escola e o trabalho não são mais suficientes para auxiliar as pessoas a construírem um projeto de vida coerente. Esta situação confusa, onde as pessoas não têm um senso estável de quem eles são, do que representam e a que lugar pertencem, resulta no aumento do sentimento de ansiedade, medo e incerteza, que Zygmunt Bauman chama de \” tremores existenciais”.
As desigualdades entre ricos e pobres estão cada vez mais visíveis, o que os impedem de viverem juntos. A elite é parte de um mundo instável que se desloca de um lugar para outro, buscando proteção e melhores oportunidades de negócios. Enquanto para o resto, são condenados a uma ansiedade crescente de medo e desconfiança, que deriva da imprevisibilidade do mundo em que vivem e sobre o qual, não tem nenhum controle.
As estratégias adotadas quase sempre envolvem a colocação de barreiras para protegerem-se uns dos outros. Estratégia de barreira que inclui o surgimento de uma fortaleza para manter os desiguais do lado de fora. Essas estratégias são sempre ineficazes pois recrudescem o sentimento de segregação e, eventualmente serve para justificar a nossa paranoia diante de qualquer movimento inesperado.
Temos estranhamente medo de toda uma série de coisas que representava novidade. Ao invés de olhar para as causas complexas da nossa sensação irracional de medo, vemos as pessoas da periferia como seres que estão confinados num universo de pobreza. O fato de termos medo das pessoas de classe social diferente, significa que não estamos propensos a nos aproximar deles, o que por sua vez leva a uma situação de estranhamento mútuo, onde ambas as partes procuram manter maior distância possível entre si. O distanciamento entre os cidadãos é um fato facilmente ignorado por muitos e na verdade, só lembrado agora por conta da rebeldia de alguns jovens, que furaram o cerco e saíram para se divertir.
Na vida e na cidade moderna esperava-se que ricos e pobres pudessem viver lado a lado. Que nada! A arquitetura da cidade moderna tornou-se o principal fator de segregação. Aqueles que podem pagar mudam-se, tiram proveito de uma série de mecanismos de segurança, os pobres são excluídos permanentemente de grande parte de sua cidade e na falta de capital econômico, inventam o que podem a fim de conquistar algum status.
Isso incomoda o projeto de vida de muitas pessoas, que não se esforçam para compreender mais profundamente o que significa viver em comunidade, o que significa estender o olhar carinhoso e humano para quem vive ao lado. Essas pessoas estão demasiadamente ocupadas e limitadas a minimizar as ameaças percebidas quando um grupo de jovens da periferia se reúne e invade um espaço nunca antes frequentado.