Sete décadas após a aprovação do voto feminino no México, o eleitorado mexicano se prepara para eleger, pela primeira vez, uma mulher como Presidente da República, num país onde ocorrem milhares de feminicídios e violência política contra mulheres. Ocorre que as duas maiores forças políticas mexicana, a coligação conservadora, a Frente Ampla, e o partido progressista Morena, escolheram mulheres para as representarem no pleito eleitoral de junho de 2024. A eleição presidencial será decidida entre duas mulheres.
Nos últimos anos, a classe política mexicana deu passos extraordinários no sentido de estabelecer a paridade entre homens e mulheres nas principais instituições do país. Em 2014 o governo mexicano promoveu uma grande reforma político-eleitoral, incentivando a participação política das mulheres nos processos eleitorais em todos os níveis. Uma das medidas foi o fortalecimento e ampliação dos poderes do Instituto Nacional Eleitoral (INE) que pode desde o início do processo, rejeitar o registro do número de candidatos de um gênero que exceda a paridade.
O resultado da reforma foi sentido na eleição seguinte, onde houve um avanço histórico na representação das mulheres no Congresso Federal. As candidatas eleitas ao Senado chegaram a 49% e 49,2% para a Câmara dos Deputados, além uma mulher ter sido eleita, pela primeira vez, governadora da capital do México. Hoje, as mulheres representam 50% da Câmara dos Deputados, o Supremo Tribunal é liderado por uma mulher e a composição ministerial do Governo tem exatamente o mesmo número de homens e de mulheres.
As candidatas a presidente são mulheres de boa formação, talhadas na política e na vida empresarial e venceram as primárias de seus partidos. Cláudia Sheinbaum, é uma cientista, integrante da elite cultural mexicana, ex-governadora da Cidade do México, integrante do atual governo progressista de Obrador e Xóchitl Gálvez, a outra candidata é engenheira, uma mulher de origem humilde, descendente de um povo indígena, que teve uma história de sucesso como estudante universitária e empresária, é senadora.
No Brasil, de uma bancada de 513 parlamentares federais, apenas 92 são mulheres (17%). Inicialmente, no governo Lula havia 37 ministérios, dos quais 11 eram ocupados por mulheres. No decorrer de 9 meses, 2 mulheres já foram substituídas por homens. Agora são 38 ministérios e apenas 9 ministras.
No Brasil, desafios antigos e recentes são basicamente os mesmos. Em muitos lugares, as mulheres ainda não são vistas ou aceitas como líderes confiáveis e capazes devido aspectos culturais quanto ao gênero. Existem muitas abordagens críticas à utilização das quotas, que foram estabelecidas como ferramenta para promover a igualdade de gênero e garantir que as mulheres tenham a oportunidade de participar minimamente da vida política.
Apesar dos avanços na representação das mulheres em cargos de poder, um número surpreendente de pessoas em toda parte que ainda não confia nas mulheres para liderar de forma eficaz. O senso comum reverbera que as mulheres não são agentes políticos eficazes, decididas e autoritárias, características tradicionalmente associadas aos homens e aos líderes. Vê-se que as noções de liderança estão ainda intrinsicamente ligadas às percepções de masculinidade.
Apesar dos preconceitos, muitas crenças mudaram com o tempo. Mas não podemos confundir a representação das mulheres nas escolas, universidades, no mercado de trabalho, como a mesma coisa que representação política, porque se pensarmos que já existe equilíbrio de gênero, é menos provável que pensemos no quão importante é eleger mulheres para cargos políticos. Assim, crenças erradas podem levar a distração quanto a eleição de mulheres.
Para alcançar a igualdade de gênero na política não é necessário mudar a imagem das mulheres ou dos homens, mas mudar a imagem dos papéis dos líderes. O líder não precisa necessariamente ser um homem forte, que grita, hiperfocado na economia, o que representa uma visão estereotipada do poder, tanto para homens quanto para mulheres.